É com indignação e firmeza que vimos a público expressar nosso mais veemente repúdio à declaração do líder do prefeito Samuel Moreira, Amarildo Simoni, proferida na Câmara Municipal, ao declarar — em tom pejorativo e debochado — que “nunca precisou das bolsinhas do PROUNI e do FIES para se formar”. Veja o vídeo abaixo:
Ao reduzir políticas públicas sérias e transformadoras a “bolsinhas”, ele ofende milhares de jovens brasileiros que, por meio desses programas, conseguiram romper o ciclo da exclusão e acessar o ensino superior. A fala carrega desprezo, elitismo e desrespeito às lutas sociais, desconsiderando o contexto de profunda desigualdade que ainda marca o Brasil.
Mais grave ainda é o fato de que essa declaração parte de alguém que se autodeclara oriundo das camadas populares, mas escolhe ridicularizar justamente os mecanismos que garantem oportunidades aos que vêm de onde ele veio. Isso revela um caso explícito de cooptação de classe — fenômeno em que um sujeito, ao ascender socialmente, abandona as pautas que deveriam ser suas e passa a ecoar o discurso das elites.
Como bem disse Paulo Freire: a educação fracassa quando “o sonho do oprimido é ser opressor”. Quando alguém que diz conhecer na pele a dureza da vida popular zomba da luta dos que ainda resistem, não apenas trai sua origem, mas também reforça os muros sociais que deveria ajudar a derrubar.
E a contradição não para aí: esse mesmo representante construiu sua trajetória com os benefícios do Estado, com carreira e estabilidade asseguradas em uma empresa pública como era a SABESP. Viveu, portanto, com os recursos públicos que agora ataca indiretamente ao desdenhar de programas como o PROUNI e o FIES — pilares da educação como direito, e não como privilégio.
PROUNI e FIES não são esmolas. São políticas de inclusão, de justiça, de esperança. Representam a possibilidade de ascensão social para milhões de jovens que jamais poderiam pagar por uma universidade particular. Ridicularizar essas conquistas é naturalizar o apartheid educacional e reafirmar a ideia de que a universidade é lugar de poucos.
A frase dita não é apenas infeliz — ela é violenta, ofensiva e vergonhosa para qualquer agente público, que deveria ter, no mínimo, sensibilidade e responsabilidade diante da desigualdade educacional.
Exigimos retratação pública imediata. Exigimos respeito à juventude periférica, negra, pobre e trabalhadora, que vê na educação a única saída para um país mais justo. Florestan Fernandes cravou: “O acesso à universidade é um ato político”. Fazer pouco das bolsas é um gesto político também — um gesto de aliança com os que sempre quiseram o povo fora da universidade e dentro da ignorância.
Pelo Professor Jefferson Pécori