sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Carta do Bispo da Diocese de Registro sobre as Eleições 2018

Reprodução do Original em: https://www.facebook.com/diocesederegistrosp/posts/949281888616046

Queridos(as) Irmãos(as) da Diocese de Registro,

Tenho acompanhado com muita preocupação a situação de nosso país, em especial neste tempo de eleição. Nossa Diocese tem como marca a defesa dos pobres, desde a sua fundação. Os bispos anteriores (Dom Apparecido e Dom Bertanha), sempre estiveram atentos às necessidades dos que mais sofrem. Comigo não será diferente.


O Brasil é conhecido mundialmente como o país da tolerância e da hospitalidade. Porém, nestes últimos tempos os ânimos ficaram à flor da pele e vejo pessoas, que se dizem cristãs, agredindo outras, por pensarem diferentes. Parece que estamos nos esquecendo da prática do Evangelho, do amor e do perdão. Interesses pessoais estão emergindo. O que vale é o que eu penso e o que eu falo. Está desaparecendo a preocupação com o outro, ninguém quer escutar o que o outro está dizendo. Para o bem da humanidade, existem algumas práticas cristãs que não podem desaparecer. É preciso cultivar os gestos de fraternidades, solidariedade, perdão e caridade, que são profundos gestos cristãos. 
Por outro lado, vemos todos os candidatos a eleição, tanto estadual como federal, falando em nome de Deus. A pergunta que fica é; em qual Deus nós falamos e servimos? O Deus de Jesus Cristo (crucificado por amor, ou o deus idolátrico do mercado, que pede sacrifícios humanos e que mata milhares de pobres. 


Estamos perto das eleições do segundo turno. No primeiro turno tínhamos vários candidatos que representavam diversos aspectos dos interesses de nossa população. Agora temos apenas dois candidatos. Olhando seus programas de governo, percebo que nenhum deles se encaixa perfeitamente no sentido do Evangelho. Apesar desta constatação, não podemos nos omitir. Diante dos dois programas de governo, temos que buscar um que esteja mais perto do evangelho e do ensinamento da Igreja. Ou somos cristãos ou não somos cristãos. Ou somos católicos ou não somos. Não podemos falar que somos cristãos e católicos e fazer o contrário do Evangelho. Não podemos dizer que somos católicos e fazer o contrário do que a Igreja nos ensina e do que os documentos e os bispos nos orientam. 


Nós da Igreja Católica apenas indicamos as qualidades que os programas de governo devem ter, enquanto outras Igrejas apoiam abertamente os nomes dos candidatos. Penso que faz parte da liberdade de cada religião. Porém, não podemos também ser omissos e depois ficarmos chorando por não termos orientado melhor nosso povo. 


Existem causas que precisam ser assumidas pelas pessoas de fé, seguidoras de Jesus Cristo. Jesus assumiu a causa dos pobres, dos que sofrem, dos pecadores, dos marginalizados, porque queria resgatar a todos. Jesus sempre ensinou que o perdão deve superar o ódio, que a vida vale mais do que qualquer lei, que a violência é contra o evangelho. 


Penso que votar deve ser também uma atitude de fé. Por isso, quero deixar algumas perguntas para que rezemos antes de votar:

• O programa de meu candidato defende a vida em todos os seus aspectos?

• O programa de meu candidato defende os pobres e marginalizados? Em especial, quando se fala da Previdência Social, será que seu programa vai defender o aposentado pobre ou vai aprovar leis que levarão os pobres, a perderem seus direitos sociais?

• O programa de meu candidato defende a não violência e a formação de uma cultura de paz?

• O programa de meu candidato tem como parte mais importante a educação, para que nosso país saia do analfabetismo e outros males da falta de cultura? 

• O programa de meu candidato se compromete com a Igreja Católica na luta de vencer a pobreza, fortalecer a democracia, combater a corrupção e a defender do meio ambiente e a Amazônia? 


Você não precisa me responder. Guarde em seu coração e depois responda nas urnas. E depois de eleito, qualquer dos candidatos, vamos cobrar para que cumpra o prometido no seu programa de governo. 

Mais importante do que eleger alguém, é eleger um projeto que não esteja tão distante do Evangelho.

Registro, 17 de outubro de 2018. 

Memória de Santo Inácio de Antioquia, Mártir.
Servi ao Senhor com alegria!
+ Manoel Ferreira dos Santos Junior, MSC
Bispo Diocesano de Registro.